sábado, 28 de novembro de 2009

Retrato Falado


Sou etérea e sórdida
Profunda e rasa
Sou luz e escuridão
Sou medo e coragem
Cela e viagem
Sou toda contradição


Sou chegada e partida
O beco e a saída
O problema e a solução
Sou canção e silêncio
Calor e arrepio
Sou Inverno e verão

Sou sonho e pesadelo
Desprezo e apelo
Heresia e consagração
Sou risco e certeza
Afago e frieza
Sou loucura e pé no chão

E não se enganem comigo
Não conheço o perigo
Vou até depois de não mais suportar
Sou amor de momento
Desprovida de sentimento
Sou noite sem luar

O oposto do que presumiu
A verdade que nunca existiu
Sou a dor da traição
O atalho no caminho
Da rosa sou o espinho
Sou a doçura nos olhos de punhal na mão.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

REFÉM

É a vida então seu usufruto
afogada entre meio e extremo
sei só das coisas que escuto
do seu mel destilado em veneno.

Ela é fera e fada atrevida
persuasiva até com os ventos
coitados daqueles que não forem atentos
com a hóspede nela contida.

Não consegue disfarçar a ironia
da sutileza de seu uso e abuso
deixando um idiota sempre confuso
e assim goza de sua viril covardia.

Há uma estranha em sua morada
talvez simbiose, talvez possessão
feito máscara que foi fixada
é a dúvida, nem sim, nem não.

Voa Fênix, voa também Andorinha
sendo levada pela marcha do Carnaval
é um belo objeto do Bem e do Mal
que oferece a Maçã e a erva daninha.

E conveniente carrega um disfarce
o de ser compreendida por ninguém
mas está estampado em sua face
o olhar de socorro de uma refém.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A hóspede


A hóspede

Ela desfruta dessa vida
como sedento saciando no poço
a sede da euforia incontida
sorrindo à garganta do fosso.

Ela anda carregada pela força
desses ventos litorais
com um caminhar faceiro de moça
apesar dos vividos carnavais.

Prefere dos extremos, o meio
apenas quando lhe convém
porque há nela um anseio
de ser compreendida por ninguém.

Carrega nos olhos uma doçura
dessas que a dor encurta
mas logo descobre quem procura
sua saliva de cicuta.

Ela não pede, ordena
com uma autoridade tão sutil
deixando em quem obedece a sensação amena
de que ela de fato pediu.

Dissimulada em pele lisa
enroscada e comovente
ela inocula em quem a pisa
o seu veneno de serpente.

Indiferente diante dos tombos
das costumeiras rasteiras da vida
vai se reerguendo sobre seus escombros
essa nix renascida.

Ela traz consigo um segredo:
a simbiose de demônio e querubim
e aceito servil esse degredo
de ela e eu morarmos em mim.